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Indústria Pornográfica

  • Foto do escritor: 10Construidos
    10Construidos
  • 9 de set. de 2019
  • 7 min de leitura

1) Texto Narrativo


Glamour, dinheiro e fama vindo fácil, certo? Se é isso que você pensa quando se trata de indústria pornográfica, meu amigo, você está redondamente enganado. Meu nome é Carolina Maia, mais conhecida nos meus vídeos como Carinha de Anjo, sou ex-atriz pornô e vou contar para vocês a minha história.

Sempre fui uma garota popular, sou bonita, engraçada, tenho um corpo de dar inveja, filha de pais ricos, a legítima Regina George do Rio de Janeiro. Desde criança, sempre tinha tudo o que queria. Minha infância foi feliz, sou filha única, meus pais se amavam e me amavam acima de tudo. Nós éramos a verdadeira família de comercial de margarina, sem tirar, nem pôr. Até que nosso teto de vidro desmoronou. Numa tarde de sábado, dia da minha festa de aniversário de 15 anos, minha mãe descobriu a vida dupla do meu pai. Houve uma briga terrível, minha mãe gritava, amaldiçoava todas as gerações do meu pai e ele, nada fazia, apenas chorava com as mãos na cabeça. Minha festa foi cancelada em cima da hora, minha mãe entrou com o pedido de divórcio em uma semana e meu pai foi morar na Alemanha, com seu sócio Hélio, dois meses depois. Desse dia em diante, passei a ver meu pai, a pessoa mais importante na minha vida, apenas uma vez por ano. Ele parou de dar ouvidos ao preconceito, assumiu seu novo marido e estava feliz na Europa, enquanto as coisas na Zona Sul do Rio, iam de mal a pior.

Minha mãe se tornou uma megera amargurada, meu pai vivia uma eterna lua de mel na Alemanha e eu, me tornei uma adolescente renegada que fazia de tudo para chamar atenção. De usar drogas pesadas a ser detida por pequenos furtos com apenas 17 anos, minha vida foi se tornando um verdadeiro inferno. E ao completar 18 anos, quando o Bruno, meu namorado 15 anos mais velho, me presenteou com um ensaio fotográfico na revista adulta em que ele trabalhava, não pensei duas vezes em aceitar. Eu sempre quis ser modelo e, para mim, não havia problema nenhum mostrar um pouco do meu corpo para tornar mais fácil minha busca pela fama. Até que um dia, nós estávamos comemorando o sucesso da revista em um bar, eu havia bebido muito e usado drogas quando o amigo do Bruno me propôs a gravar meu primeiro vídeo. Eu sabia que a revista era sócia de um estúdio de vídeos pornográficos, mas isso nunca me incomodou. Era um trabalho honesto e quem estava ali, estava por livre e espontânea vontade. Tomada pela sensação de adrenalina que as drogas incitavam, topei fazer o vídeo sem pestanejar. Já era madrugada quando fomos ao estúdio, uma das atrizes que iam gravar naquele dia havia passado muito mal após injetar heroína nas veias, então, eu ficaria no lugar dela. No início, foi tudo tranquilo, o ator que contracenou comigo também era novo no ramo e meu namorado estava lá me apoiando. Gravamos uma cena simples de sexo oral e confesso que me senti meio mal enquanto gravava, mas fui instruída, de forma brusca, pelo produtor, a suavizar minha expressão facial. Somente quando o vídeo foi publicado pelo site e viralizou em menos de 24 horas, se tornando um dos filmes pornôs mais assistido da plataforma, foi que minha ficha caiu. Me apelidaram de "Carinha de Anjo" por conta dos meus olhos terem se destacado no filme, mal sabe eles que não estava tentando ser sexy, e sim, estava assustada com aquilo tudo. Não demorou muito para que o vídeo chegasse na minha mãe e ela me colocasse de uma só vez para fora de casa. Meu pai me ligou bravo, ameaçando voltar para o Brasil pra me dar uns tapas. Desliguei o celular e bloqueei ele de tudo, assim como ele havia me bloqueado da sua vida, há 4 anos. Em menos de um mês, me convidaram para gravar outro filme, dessa vez, com mais dois atores. O cachê era razoável, dava para alugar um apartamento pequeno e sair da casa do Bruno, porém, ele bateu o pé, com ciúmes, dizendo que não era pra eu fazer, que o primeiro havia sido só por diversão. Não dei ouvidos e aceitei a proposta, o que resultou em uma briga feia e em eu saindo da casa do Bruno e indo morar num hotel. Passei a ser atriz fixa da casa, eu era a estrelinha do estúdio e estava ganhando dinheiro e reconhecimento pelo Brasil. Via a forma que as outras atrizes eram tratadas, algumas delas eram muito novas e faziam aquilo pela fama ou para de sustentar, outras, usuárias de drogas, eram maltratadas e agredidas pela equipe, sendo descartadas logo em seguida, pois, quase ninguém dura nesse ramo, logo as atrizes “perdem” a graça. Nunca vi ninguém chegar ali sendo obrigada e eu, bem sei como era horrível gravar vídeo forçado, tanto que vomitava depois todas as vezes que acontecia comigo, quando contracenava com alguma equipe que não possuía o mínimo respeito por mim, o que, no meu caso, era raro. E eu engolia os sapos calada, estava gostando da fama, eu era a Mia Khalifa brasileira e não tinha nada a perder com aquilo. Já havia perdido o respeito das pessoas, era diariamente insultada nas redes sociais e nunca era levada a sério quando alguém me reconhecia, ouvindo piadinha de mau gosto até mesmo na faculdade. A única pessoa que eu podia contar era a Isabela, outra atriz fixa da casa, apesar da maioria ser usada e descartada, trabalhando lá por três meses ou menos. Ela estava ali há mais tempo que eu e gravava sempre com o namorado, Carlos, assistindo. Já esse, ao meu ver, era um verdadeiro vagabundo. Isa havia perdido contato com toda sua família por causa dele e, ela nunca me disse, mas eu sabia que ele não aprovava nossa amizade. Eles moravam juntos desde que ela havia entrado para o estúdio, e quem passava algum tempo com ela, notava como ela era uma mulher oprimida. Sempre assustada, medindo as palavras e até mesmo as expressões corporais. Às vezes, Isa aparecia com marcas roxas nos braços e pernas, e eu tinha que ajudá-la a esconder com maquiagem para que não saísse nos vídeos. Eu vivia pedindo pra Isa largar dele, falava que ela podia morar comigo o tempo que quisesse, mas ela sentia medo e sempre dava um jeito de mudar de assunto. Até que o pior aconteceu.

Certo dia, Isa foi chamada para gravar um filme em grupo, somente com ela de mulher. Nós conversamos por telefone minutos antes dela entrar em cena, ela parecia estar aflita e, antes do telefone ser tomado de forma abrupta, Isa me confessou que não queria estar ali e disse que Carlos havia a ameaçado para que gravasse, pois, o cachê seria um pouco maior nessa modalidade. Tomada pela adrenalina, chamei um táxi e fui direto para o local de gravação. Chegando lá, não havia mais nada a fazer. Isa foi encontrada morta em um dos quartos da casa, ninguém sabia ao certo o que havia acontecido, procurei Carlos, mas ele já não estava mais ali. Tentei chamar a polícia, mas o dono do estúdio me impediu, alegando que não queria criar problemas para ele e nem manchar a reputação do seu site. Isa foi enterrada no dia seguinte, e apenas eu, sua única amiga, e mais dois colegas de trabalho compareceram ao sepultamento. Em seu atestado de óbito, manipulado pelo estúdio, alegava que a morte havia sido dada por questões naturais. O caso foi abafado, assim como todos os outros relacionados aquele lugar. Descobri, por um colega da produção, que Isa havia sido obrigada a gravar a maior parte de seus vídeos e nenhum funcionário do estúdio havia sequer se importado com seu bem-estar. Notei que lá, nenhuma mulher era devidamente respeitada, éramos tratadas como mero objetos sem valor algum, foi daí que eu decidi largar desse ramo e me voltar contra ele. Tornei-me ativista pela luta das mulheres que eram submetidas à essa indústria cruel, que mata mulheres ao redor do mundo e nos objetifica, tirando nossa autonomia em relação ao nosso corpo e deixando sequelas na pele e na vida de quem, por algum motivo, teve que se submeter à esse mercado.



2) “Apenas 17% dos atores usam preservativos e pelo menos 80% das atrizes e atores relatam haver contraído doenças sexualmente transmissíveis (DST) ao trabalhar em produções pornográficas”



3) “Atrizes admitem que não há diferença entre estupro e a gravação de uma cena pornográfica, exceto que na última ocasião a atriz é paga."



4) "Cada vez que alguém assiste a este filme, está me vendo ser estuprada"

Linda Lovelace, sobre o filme "Garganta Profunda (1972)".



5) "Ao analisar 304 cenas dos materiais pornográficos campeões de vendas, pesquisadores detectaram que em 88,2% das ocasiões havia agressão física – principalmente tapas e bofetadas – e que em 48,7% havia agressão verbal. Em 94,4% das ocasiões, as vítimas das agressões eram mulheres."

BRIDGES, A.; WOSNITZER, R.; SUN, C. e LIBERMAN, R. Aggression and sexual behavior in best-selling pornography videos: A content analysis update. In: Violence Against Women 16. 2010.



6) "É muito comum que as atrizes precisem consumir bebidas alcoólicas e outras drogas, para que possam estar anestesiados para trabalhar”



7) "O abuso de substâncias e a depressão parecem ser desenfreados entre atores pornográficos, talvez relacionados à censura social que acompanha o trabalho.

Estrelas pornô tendem a morrer jovens por overdose, abuso de álcool ou suicídio."




8) "Pornografia faz os homens serem péssimos na cama. O que excita as mulheres? Bem, eles não mostram isso no Red Tube"



9) "Os meninos que começam a assistir a pornografia em uma idade jovem são mais propensos a se tornar homens misóginos que querem ter poder sobre as mulheres, afirma um novo estudo de Pesquisadores da Universidade de Nebraska-Lincoln."



10) "22 milhões de brasileiros assumem consumir pornografia e 76% são homens, diz pesquisa"



Bônus: Coisas que você não vê em filmes pornô, por Hazel Mead.


Essa foi a desconstrução da semana! #Polêmica

E você, qual a sua opinião sobre a indústria pornográfica?

Boa semana e até a próxima!!!!!

 
 
 

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